ESTRELA (arrogante) —
Eu moro nas alturas consteladas
e ando por entre as gázeas nebulosas, no Éden, onde as estrelas são as fadas de
longas cabeleiras luminosas. A via - láctea é o tálamo argentino onde derramo
toda a minha luz... — Iluminar o céu é o meu destino, pois para isso na
amplidão me pus. Nem águias, que transpõem cordilheiras, atingirão jamais onde
eu habito, porque, cheias de tédios e canseiras, jamais penetrarão pelo
infinito... Estrela — sou na etérea imensidade, a fulgura janela de cristal por
onde espia Deus, da eternidade, o mundo cheio de tristeza e mal.
E tu, quem és, humilde
Manjedoura, para que contes toda a tua gloria? Hás de pensar: eu sou
imorredoura, pois não tem fim a minha trajetória...
MANJEDOURA (humilde, permanece abaixada e de
cabeça baixa) —
Eu nada valho diante de
uma Estrela, que enche o infinito todo de clarão, porém, não sendo eu
fulgurante e bela, a minha glória não é sem razão — Vivo na terra, habito com a
pobreza e nada sei da tua formosura; sou palha seca, seca e sem beleza, e só o
pobre pária me procura. Os bois, que mugem ao cair do dia, buscam-me sempre com
satisfação, porque o meu feno a fome que os crucia vai-lhes servir de abençoado
pão... Não sou de Deus janela, como dizes ser entre os astros todos do
infinito, mas os que vem a mim são mui felizes e de alegria soltam o seu grito.
Isso me satisfaz, é a minha glória, se não clareio o céu, que quero mais? Cheia
de ilustrações é a minha historia, mais bela que a dos mundos siderais.
ESTRELA —
Não creio no que dizes, és
fálace e, arrependida, a fronte não inclinas... Que seria do mundo, se faltasse
o brilho das Estrelas peregrinas?
MANJEDOURA —
Embriaga-te o fascínio
das alturas e muito grande tu desejas ser, mas, apesar de tudo, não procuras um
caso extraordinário me dizer!...
ESTRELA —
Pois ouve lá: Há séculos
passados, quando guerra no mundo não havia, de entre outros Astros de clarões
dourados, que transformam a noite escura em dia, fui escolhida, pelas mãos
divinas, para desempenhar uma missão de procurar ao longo das campinas a do
Messias pobre habitação.
Tomei o meu diadema
luminoso e, de lampejos novos me vestindo, tornei o espaço mais esplendoroso. E
nesse dia o céu ficou mais lindo.
E, cheia de fascínio,
caminhando traves do atapetado céu, parti, o berço do Messias procurando, do
Cristo cuja face inda não vi.
Errei pela amplidão da
Palestina, como quem busca para si tesouros, como quem o seu nome não declina
quando a vitoria aos pés lhe atira os louros.
Depois olhei no engaste
azul celeste para escutar dos anjos as canções e embaixo vi Belém, de humilde
veste, sorrindo para todas as nações...
Jesus nascera, o Salvador
do mundo, cuja choupana iluminei, radiante, ele na terra, em seu fulgor
profundo, eu a fulgir no páramo distante!
Tiveste tu a glória
sublimada de, sobre a casa onde Jesus nasceu, brilhar — opala grande e
iluminada — como naquele dia brilhei eu?
MANJEDOURA —
Somente tu, Estrela
fulgurante, brilhaste sobre o teto do Messias, mas não estavas tu no céu
distante, como ver ao menino poderias? Foste menos feliz do que eu, no entanto,
porque não contemplaste o Salvador, teu orgulho dos cimos era tanto que nem
pudeste ver o bom Senhor! Pois eu vestes não tive aparatosas, nem me enfeitei
de contas de esmeraldas, nem o meu solo atapetei de rosas, nem ostentei coroas
e grinaldas, para, naquele dia memorável, ouvir dos anjos as canções sem fim,
porque, sendo eu humilde e miserável, o Salvador nasceu dentro de mim! Fui eu
quem teve a dita sublimada de receber a criança no regaço, quando, naquela
noite iluminada, brilhaste no zimbório azul do espaço; fui eu quem, ao abrir no
infinito os olhos abrasados pela luz, sorriu na terra para o peito aflito, no
primeiro sorriso de Jesus!
ESTRELA — Tu tens razão... Adeus! Onde
cintilo, pairam as nuvenzinhas cor-de-rosa, e inda percebo ouvir no céu tranquilo
as melodias da harpa sonorosa... Adeus! Adeus! O espaço me convida e eu devo
alar-me para os céus azuis; vou procurar em Cristo a eterna vida, pois vida
eterna só há em Jesus!
MANJEDOURA (sozinha)
—
Nasceu Jesus!
Hosanas nas alturas
E paz na
terra aos homens que Deus ama!
Vibrem de
gozo todas as criaturas,
Porque do céu
perfume se derrama
E a terra
toda se enche de alegria
Para aclamar
Jesus, o sumo bem,
O Rei nascido
numa estrebaria,
Na manjedoura
humilde de Belém.
Fonte: APPLEBY, Rosalee M. Florilégio Cristão. JUERPE, 18ª Edição.
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