quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

A Testemunha - Peça Natal




"... Porque não havia lugar para eles na estalagem."

PERSONAGENS
JULIANA, a mãe

AUGUSTO, o pai

JASMIM, filha
KAMAL, filho

José, Maria e 3 pastores, apenas comporão um quadro, e não terão diálogo.

CENÁRIO - Uma casa pobre e rústica.

ACESSÓRIOS - Moedas e um jarro rústico.

INDUMENTÁRIAS - Túnicas compridas e mantos bem arranjados nos ombros dos homens e das mulheres. Variar os tons das cores. Todos usarão sandálias rústicas ou estarão descalços.
ILUMINAÇÃO - Além do sugerido, o grupo criará a seu modo, com bom gosto. 


Cena I
(ao acender as luzes, aparece Augusto e Juliana em um lugar mais elevado. Pode ser no púlpito)
Augusto, mal humorado – Apressa-te, mulher! Leva logo a bebida que os homens estão esperando.

Juliana, amedrontada – Não me demoro. Estou esperando que o carneiro esteja cozido.

Augusto, autoritário – Nada de esperas! Vamos de uma vez! Na adega está o vinho para levar-lhe. Você não passa de uma preguiçosa.

Juliana – Está bem, está bem... Mas sabes que não gosto de servir bebidas àqueles homens. Parecem salteadores...

Augusto – Mas precisamos de dinheiro e eles, mesmo que sejam salteadores, nos darão dinheiro, e isso é o que importa. Além do mais, você mesma deve servi-los, pois Kamal, nosso filho, está nos campos cuidando das ovelhas. (Juliana sai e Augusto fica contando suas moedas)

Augusto – Mulher estúpida! Como pensa ela que poderemos viver se nos faltar o dinheiro? (divaga) É mesmo preciso ter muitas moedas, milhares de valiosas moedas! Ainda serei o homem mais rico das redondezas. Em Belém hão de ouvir o meu nome! Ainda deixarei esta hospedaria, que não passa de uma espelunca, por um negócio mais próspero e lucrativo.

(entra Jasmim com um pote)

Jasmim – Sua benção, meu pai.

Augusto, aborrecido – Por onde andou, menina?

Jasmim – Fui até o poço, buscar água.
Augusto – Espero que seja mesmo verdade o que diz. Não gostaria de precisar espancá-la novamente.

Jasmim, amedrontada – Mas por quê?

Augusto, ameaçador – Ainda perguntas por quê? Pois bem, eu direi o motivo: um dos homens que traz a lenha para a estalagem disse ter visto a ti e Kamal em companhia de parentes de Isabel, essa mulher que alega ser temente a Deus. já disse muitas vezes para não se juntarem a esses que esperam as coisas caírem do céu. Céu é ter dinheiro, e para isso é que preciso trabalhar, ouviu bem?

Jasmim – Não fale assim, meu pai. Devemos respeitar a Deus, que é o Senhor do universo.

Augusto – Cale a boca, pequena. Mulheres foram feitas para permanecerem caladas, bem quietinhas, ouviu? (levanta a mão para Jasmim, mas a entrada de Juliana o interrompe.)

Juliana – O que é isso, Augusto? Por favor, não bata na menina outra vez! (muda a conversa, para aliviar a tensão). Olha, está aí um casal procurando hospedagem.

Augusto – Quanto poderão pagar?

Juliana, gaguejando – Na... na... não sei. Penso que são muito pobres, e...

Augusto, interrompendo – Pois que vão buscar outro lugar. Não quero saber de pobres que não têm como pagar.

Juliana – Mas meu marido, a mulher está quase a dar à luz um criança!
Augusto – Pois que morram! Você ainda quer arranjar-me problemas, mulher? Onde já se viu termos aqui uma criança a choramingar?

Jasmim, corajosa – Mas temos uma vaga nos aposentos ao lado, pai.

Augusto – Cala a boca! Vá, mulher, e diga que não temos lugar.

Juliana – Mas para onde irão, se após o decreto de César Augusto para que venham os alistar-se, a cidade está superlota?

Jasmim – Não encontrariam hospedagem em nenhum outro lugar. Kamal, meu irmão, disse que muitos dormem pelas estradas.

Augusto – Sabem de uma coisa? Eu estou farto de vocês com suas constantes lamúrias. Não quero que esses pobretões fiquem e é só! Vamos, Juliana diga-lhes que se retirem imediatamente! (grita) – Vamos, eu já disse! (Juliana sai apressadamente e em seguida Jasmim, após o olhar de ódio do pai.) Apagam-se as luzes.
Ao aceder as luzes, entram José e Maria. Ele se dirige a uma hospedaria. Música


Cena II

Kamal entra pela porta da rua

Kamal, gritando – Pai, Jasmim, minha mãe! Onde estão todos?
(sob luz fraca aparecem os familiares)

Augusto – Mas que gritaria louca é esta, Kamal? Não pode falar mais baixo?

Kamal, ofegante – Acendam as luzes! Tenho uma notícia maravilhosa!

Juliana, tocando o braço do filho – Kamal, meu filho, não consegui dormir durante a noite preocupada com você. Por que demorou tanto?

Kamal, sacudindo energicamente, mas com carinho a mãe, a abraça e, em seguida, aperta-a de encontro ao peito – Minha mãe, oh! Minha querida mãe! Não imagina o que tenho a dizer-lhe!

Jasmim, sorrindo – Pois fale logo meu irmão! Não nos deixe tanto tempo na expectativa!

Augusto, mal humorado – Imagino que se deve tratar de mais uma de suas bobagens.

Kamal, andando de um lado para o outro, demonstrando grande euforia – Meu Deus, eu nem mesmo sei como começar! É verdade: as palavras são tão pequenas para traduzir o fato inesperado e esplêndido que se passou comigo! Que indizível felicidade! (olha para Jasmim) Sim, minha querida, vou narrar o que houve. (respira fundo) Durante a noite, eu apascentava as ovelhas como de costume, com Zacarias e Elifaz, quando... (emudece de emoção)

Juliana, tocando o roso do filho – Vamos, filho, conte-nos!

Kamal – Apareceu-nos um anjo do Senhor!

Juliana e Jasmim – Um anjo?

Kamal – Sim! E a glória do Senhor cercou-nos de resplendor. De inicio ficamos temerosos, mas ele nos disse que trazia novas de grande alegria para o povo.

Augusto, irritado – Cale-se, Kamal! Você está louco.

Kamal, dirigindo-se com autoridade para o pai – Não, meu pai, eu não estou louco e nem posso calar-me. (pausa) Pois bem, o anjo contou-nos que na cidade de Davi acabara de nascer o Salvador, que é Cristo, o Senhor.

Jasmim – Eu sabia! O Senhor havia colocado isto em meu coração.
(aparece em outro plano a cena da manjedoura)

Kamal – O anjo ainda nos disse que como sinal acharíamos o menino envolto em faixas e deitado numa manjedoura. Depois, creiam, apareceu com o anjo uma multidão dos exércitos celestiais louvando a Deus e dizendo:

Voz dos anjos: “Glória a Deus nas alturas, paz na terra aos homens, a quem Ele quer bem”.

Kamal – Então fomos até Belém e tivemos a graça de ver o que o anjo nos anunciara.

Juliana – Mas que grande benção, meu filho! Sabe, enquanto você fala tenho a impressão de ver tudo o que aconteceu. E tenho em meu coração que o Messias é nascido daquela mulher que esteve com o marido a procurar hospedagem em nossa porta.

Jasmim – Também penso o mesmo, minha mãe. (abraça o irmão) Oh! Kamal, como estou feliz! (olha para o pai) Meu pai, o que se passa em seu coração?

Augusto – Estou imensamente amargurado. Eu não sou digno de ter ouvido tudo isso.

Kamal – Como não é digno, meu pai? Todos temos o direito à salvação através da vinda do Filho de Deus.

Augusto – Todos não, eu nada mereço. Sempre fui um patife da pior espécie!

Juliana, aproximando-se do marido – Pois é o momento agora de arrepender-se, Augusto. Belém abriga hoje o Filho de Deus, que veio salvar-nos de nossos pecados.

Augusto, arrependido – Como pude ser tão hipócrita, meu Deus! negando hospedagem a um pobre casal deixei de ter aqui nesta casa o teu Filho, Jesus?... ajoelha-se, chorando – Perdoa-me, Pai eterno, perdoa-me!

Kamal, tomando as mãos do pai e ajudando-o a levantar – Levante-se, meu pai. Tenho certeza de que as portas do céu foram abertas agora para o senhor.

Augusto – A partir de hoje, a nossa hospedaria estará aberta a todos. O meu coração, como a hospedaria, estará aberto para a humanidade. Os pobres, os angustiados, os fracos, os filhos de Deus espalhados por toda a terra!
Apagam-se as luzes.

Fonte: Jograis e Representações Evangélicas Vol. 1 (Maria José Resende),  Editora CPAD


Nenhum comentário:

Postar um comentário