domingo, 5 de maio de 2013

Não toqueis nos meu ungidos


Ao observar a história da humanidade não há dificuldade para constatar a forte tendência do homem para estabelecer ídolos para si.
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Nos tempos bíblicos, vemos que havia exageradamente ídolos para todos nas tradições egípcias. Na Índia, as vacas permanecem intocáveis, inclusive se o animal resolver dormir em pleno asfalto, atrapalhando o trânsito de uma importante estrada vicinal. Nas ilhas galápagos, a tartaruga é alvo da idolatria de seus nativos, capazes de hostilizar quem ousar argumentar contrariamente tal situação. Católicos e as estátuas... Alguns muçulmanos são capazes de partir para ofensas, afrontas, atos violentos de linchamentos quando suas paixões da religião islâmica são desrespeitadas. 
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O grande problema no tratamento dispensado aos pregadores e cantores famosos, por parte de uma parcela da comunidade evangélica, é o uso do jargão "não toqueis no meu ungido", como se cristãos famosos fossem inerrantes, 100% santos, perfeitos, incapazes de falhar.
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O que dizer dessa atual conjuntura do cenário gospel? O sentimento que permeia o meio é diferente do que há no mundo? Se o irmão anônimo recebe críticas construtivas, não haverá problemas para quem o criticou; mas se houver crítica contra o comportamento de um pastor com nome proeminente, ou um cantor de grande vendagem de CDs evangélicos, o autor da crítica receberá reprimendas. Ao apontar o erro, quem aponta está sujeito a ser considerado fariseu, juiz, ouvir adjetivos feios, e ser excluído da roda de amigos.
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Será que ao apontar o erro de portadores de fama, é manifestado o lado escuro do evangélico idólatra, o demônio cultivador da idolatria se levanta na vida de adoradores de seres humanos? É exatamente isso que dizem muitos críticos de famosos.
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Mas o que é ser ungido? Davi foi um ungido do Senhor assim como Saul, mas tanto um como o outro foram exortados por profetas. Davi por Natã e Saul por Samuel. Ninguém está isento de pecar, portanto todos estão sujeitos à exortação.
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É um grande erro usar a frase "não toqueis no meu ungido" para blindar pessoas e assim abrir a elas passagem  à imoralidade, para que possam fazer tudo o que desejarem sem serem acusadas de cometer erros, sem serem  repreendidas ou exortadas ao conserto com Deus.
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"Não toqueis no meu ungido". Não sei se tal frase poderá sempre significar que a pessoa que a diz é uma idólatra. Mas com certeza significa um equívoco, quando é dita no sentido de querer classificar e solidificar uma hierarquização. No Novo Testamento todos os cristãos convertidos são pessoas ungidas pelo Espírito (1 João 1.20, 27). E todas as pessoas ungidas receberam unção igual porque são amadas por Deus sem distinção, e Deus quer o bem delas na mesma proporção.
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Tocar no ungido de Deus - evangélico anônimo ou famoso, liderado ou líder - é realmente uma atitude perigosa se a ação é feita por conta própria, porque a ira do homem não manifesta a justiça divina (Tiago 1.20). O amor não faz mal, o cumprimento da lei da Cristo é amar (Romanos 13.10; 1 Coríntios 9.21). Quem age pelos métodos carnais em suas críticas, apesar de usar capa de religiosidade, atenta contra o próprio bem-estar futuro, porque o mandamento de Cristo para todos é proceder amando o semelhante como a si mesmo,  e os desobedientes a essa ordem não têm como fugir do Dia de Acertos de Contas, no porvir, quando lhe será dado como castigo o sofrimento eterno (Gálatas 6.1-10).
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Olhando a situação por outro ângulo, alguns críticos realmente estão errados em suas críticas. Não foi sem propósito que Paulo escreveu: "Mas vós, amados, edificando-vos a vós mesmos sobre a vossa santíssima fé, orando no Espírito Santo, conservai-vos a vós mesmos no amor de Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo para a vida eterna" - Judas 20, 21. Nem todos que criticam famosos são porta-vozes de Deus ao criticar. Eles falam motivados por boas intenções equivocadas, ou interesses pessoais, ou inveja. E por fina ironia, até esses críticos estão constituídos como ídolo gospel por uma gama de evangélicos idólatras, gente viciada em procurar ciscos nos olhos do próximo.

Por Eliseu Antônio Gomes

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