Personagens:
Rafael
Jonas
Sara
Jane
Maria
Poliana
Indumentárias: Roupas brancas e faixas coloridas que estarão no chão.
Ao inicio da peça
todos os componentes estarão deitados em posição fetal.
Narrador, às escuras – “E disse Deus: façamos o
homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine os peixes do mar e
sobre todo o réptil que se move sobre a terra. E criou Deus o homem à sua
imagem; macho e fêmea os criou. E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: ‘frutificai,
multiplicai-vos e enchei a terra, sujeitai-a, dominai sobre os peixes do mar e
sobre as aves do céu. E todo o animal da terra, toda árvore que dá semente e
todo o fruto da árvore ser-vos-à para mantimento.’ E viu Deus tudo quanto tinha
feito e eis que era muito bom. E foi a tarde e amanhã o dia sexto.”
Após a narração
acende-se as luzes e os personagens vão levantando lentamente como se
estivessem nascendo. Aos poucos vão descobrindo as suas mãos, pernas, rostos
etc. descobrem também o lugar onde estão.
Rafael, tocando o braço de Jonas – Você! Quem é
você? Por que estamos todos aqui?
Jonas – Não sei. Sei
apenas que existo.
Sara, muito feliz, observa as mãos – Mãos...
eu tenho mãos! Posso tocá-las, posso dar bom dia! (com a mão direita espalmada ao alto, cumprimenta os outros em cena.)
Bom dia!
Jane, repetindo – Bom dia! É bom falar-lhes
assim, agora que estamos todos aqui.
Maria, olhando à sua volta, e descobrindo –
Este é o nosso primeiro dia – o dia primeiro da criação dos homens.
Poliana – Mas terá havido
outros dias antes deste?
Rafael, rindo – Ora, mas certamente. Isto é o
que se chama tempo. Algo dentro de mim fala da existência de outros dias antes
de nós.
Sara, alegre – Vejam em que lugar maravilhoso
nós estamos(olhando admirada à sua volta)
montanhas imensas, vales verdejantes... flores belíssimas de todas as cores:
rosas, margaridas, sempre vivas, jasmins, tantas!
Jonas – E o sol, lá em
cima a todos iluminando. Imenso carro de Osíris em sua eterna caminhada...
Jane, para Rafael – Você falava da existência
de outros dias antes de abrirmos os olhos para a vida. Acho que era os dias em
que o Criador enfeitava a terra de árvores e flores, os dias em que cuidava do
sol, da lua e das estrelas...
Poliana – Sim, e também
criava os animais!
(Rafael sai para o meio do público
como passeando).
Maria – Animais... Sim é
verdade. Eu já vi alguns deles aqui na floresta. São tigres lindamente
pintados, pássaros de mil cores, elefantes, búfalos! Hoje vi enormes búfalos e
eles não fazem mal a ninguém.
Sara, rindo – É engraçado como já sabemos os
nomes de todas as coisas como se, as palavras já existissem antes de nós, não é
mesmo?
Rafael, voltando apressado para o meio de cena –
Ei, vocês não imaginam o que descobri por detrás daquelas montanhas.
Jonas – O que foi homem?
Que alegria é essa?
Rafael, quase atropelando as palavras – O mar...
eu vi! Pude vê-lo com meus próprios olhos; o mar reinando em seu azul.
Poliana – Azul? Então quer
dizer que o mar é azul? (encantada.)
Rafael – Sim! Quer dizer,
embora também pareça verde, às vezes. Depende do modo em que o olhamos.
Sara – E o mar estava
sozinho?
Rafael – Não; claro que
não. O mar nunca está sozinho. Haviam as gaivotas muito brancas e barulhentas,
que cantavam à sua volta. Mas não era só as gaivotas. Eu vi peixes aos
milhares... e até as baleias, que são imensas! (eufórico) Vocês precisam ver as baleias! Elas são como donas dos
mares e creio que morarão para sempre naquelas águas.
Maria, alegre – Então vamos todos ver o mar! O
que estamos esperando?
(viram-se de costas,
mãos dadas, e em seguida voltam-se de frente outra vez, rapidamente. Olham para
a platéia que consideram o mar.)
Jane e Rafael – Vejam, chegamos!
É o mar!
(soltam-se e começam
a expressar gestos de enfiar os pés na água, lavar o rosto, jogar água uns nos
outros, alegremente, como crianças.)
Sara – Silêncio! Vamos
ouvir o que dizem as ondas, elas estão fazendo um barulho como se cantassem.
Todos, cantam alegremente o hino 124 da Harpa
Cristã 1ª e 5ª estrofes:
“Adorai o Rei do Universo/ terra e céus, cantai o seu louvor!/ todo o
ser no grande mar submerso,/Louve o Dominador!/
Todos juntos o louvemos!/Grande Salvador e Redentor!/ Todos o
louvemos!/Régio Dominador!/
Altos cedros! grama verdejante!/ Esta sinfonia aumentai!/Aves, vermes,
todo ser gigante,/Gratos a Deus Louvai!”
Rafael – As ondas falam do
Criador, aquele que começou todas as coisas.
Jane – Eu gostaria...
sim, gostaria de conhecê-lo.
Jonas – Eu também, e
creio que todos nós gostaríamos de conhecê-lo, mas acontece que Ele está sempre
entre nós. A paz e a união que temos é o que prova a sua presença. Apenas não
podemos enxergá-lo porque a nossa visão é limitada.
Rafael – O amor entre nós
é a presença do Criador. Não mais sentiríamos a sua presença se nós nos
dividíssemos; se o nosso coração não fosse um só. E saibam: toda a natureza
também nos fala de Deus.
Jane e Maria – “Os céus
manifestam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra de suas mão.”
Sara – “Um dia faz
declaração a outro dia e uma noite mostra sabedoria a outra noite...”
Jonas – “Sem linguagem,
sem fala, ouvem-se as suas vozes...”
Poliana – “A lei do Senhor
é perfeita e refrigera a alma.”
Rafael e Poliana – “Quando vejo os
teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que preparaste...”
Maria – “As aves do céus
e os peixes do mar e tudo o que se passa pelas veredas dos mares...”
Todos, com as mãos elevadas para o alto:
- “O Senhor, senhor nosso, quão admirável é o teu nome sobre toda a
terra!”
(cantam um corinho
de mãos dadas e Jane sai, em seguida entra com um pão à guisa de bandeja.)
Após o corinho, os
personagens se assentam no chão em círculo. Entra Jane.
Jane, entra com um pão – Trouxe o pão, feito
do fruto da terra.
Todos, em atitude de
oração – Obrigado, Senhor, pelo pão.
(repartem o pão
entre todos de modo alegre e sorridente.)
Sara e Rafael, chegando à frente – E eram assim (apontam para a reunião) felizes, antes
do conhecimento do pecado.
Maria e Jonas, levantando-se com os demais – E então
Deus passeava no Jardim do Éden...
Todos, tornando-se muito sérios, e ficando de
frente para o público – Mas houve um dia, um dia diferente de todos os
outros dias!
Poliana – O dia em que o
mal penetrou no coração do homem. (viram
de costas uns para os outros, dois a dois, ficando de lado para o público.)
Rafael, ainda na mesma
expressão corporal – E, tendo pecado, afastou-se com isso o homem de Deus! (colocam em seguida as faixas que estavam no
chão, para dar a idéia do símbolo do pecado que lhes manchou a roupa.)
Jane – Ao oriente do
Éden, o homem levava o sinal de Caim e a marca do medo. (sentam-se no chão, cabisbaixos e tristes, ficando de pé apenas o que
dirá o poema, e Jonas que sai de cena, cabisbaixo.)
Sara (ou outro componente) – Principalmente
agora Senhor, é que sinto a tua falta;
Na hora de angustia e medo é que percebo, o quanto estou sozinha.
Só agora percebo, e me parece tarde, que estamos – Criador e criatura –
separados!...
A tua ausência, Pai, é perder, estando vivo, a própria razão de viver!
Tudo perdi, perdendo eu a ti.
E agora, Senhor, ferida aberta na alma, sou apenas uma enorme sede do teu
imenso amor.
Poliana, levantando-se alegremente – Mas, não! Deus não abandonou o homem ao seu
próprio destino... Cristo veio habitar entre nós! (levantam todos as mãos para o alto em atitude de louvor e alegria, e
permanecem em estático por alguns segundos e, em seguida, começam a representar
“O Cego de Jericó”.)
Maria, animada – Dizem que Ele, o Cristo,
passará hoje por aqui, de caminho para Jericó!
Rafael – É mesmo verdade?
O Mestre pisará por estes caminhos? Onde ouviu a noticia?
Sara, interrompendo alegremente – Ora, não se fala em outra coisa na cidade.
Também ouvi hoje cedo, no mercado.
Poliana – Dizem que Ele
virá com uma grande multidão, que o acompanha sempre, por onde quer que vá!
Jane – Então poderemos
vê-lo? Mas isto é magnífico!
Rafael, muito emocionado – Lá está! (aponta para a porta da rua) É o Mestre!
O Messias, que caminha entre o povo.
Jonas, um cego,
entra pela porta dos fundos, tropeçando e caindo – Onde? Onde está Ele? (grita) Jesus, Filho de Davi, tem
misericórdia de mim! Senhor, pois quero ver a luz do sol; toca os meus olhos,
filho de Davi!
Todos, estendendo as mãos para Jonas – Vê, a
tua fé te salvou!
Jonas, pulando de alegria – Eu vejo! Eu vejo!!!
Estou curado. Eu vi o rosto do Mestre Jesus e agora verei o sol. (ajoelha-se.) “Louvado sejas, Deus! Oh!
Senhor, obrigado. Louvado sejas!”
Todos, cantam um corinho bem alegre, depois
espalham-se pelo público, com o semblante sério.
Rafael – O Cristo esteve
entre os homens curando enfermos e ressuscitando mortos.
Poliana – Mas veio
principalmente para conduzir os homens ao Céu.
Jane – Veio para o que
era seu e os seus não o receberam.
Sara – E retribuíram o
seu imenso amor com uma pesada cruz!
Todos – A cruz que o
conduziu ao Calvário. (retornam ao centro
de cena curvados, cabisbaixos e tristes.)
Rafael, com as mãos para trás – “Senhores, o que
é necessário que eu faça para me salvar?”
Todos, muito alegres – “Crê no Senhor Jesus e
serás salvo, tu e a tua casa.”
Sara, indecisa – Mas ainda hoje, nos dias dos
foguetes interplanetários?
Rafael – Sim, hoje nos dias
das grandes conquistas espaciais.
Jonas – Agora mesmo estão
acontecendo maravilhas nos laboratórios científicos...
Jane, sem esperança – Não, eu não creio que a
mensagem de Cristo seja a mesma hoje em dia. As nações disputam o domínio da
terra e prevalece o mal contra o bem.
Todos, animados – Ainda hoje sim! – Cristo é o
mesmo eternamente!
Maria – Desde a criação,
desde o momento primeiro Ele é o mesmo!
Poliana – Mesmo antes que
existissem as estrelas no firmamento e antes que a relva crescesse no chão.
Sara – Ele reina sobre
os mares, os céus e a natureza inteirinha.
Rafael – E voltará um dia!
E todo joelho há de dobrar-se diante dele.
Jonas – Sim, há de voltar!
E o povo que é seu o aguarda ansiosamente. (tiram
as faixas e jogam pelo chão.)
Poliana – Quem é esse povo
de que falas? Estes que estão vestidos de branco, quem são e de onde vieram?
Maria – Os vencedores!
Eles serão vestidos de vestiduras brancas e seus nomes não serão riscados,
nunca, do Livro da Vida!
Todos, apontando para o público – Vistam
depressa de branco os seus corações! De branco como a neve. Aceitem Cristo, que
não tarda a voltar!
Fonte: RESENDE, Maria José. Jograis e representações evangélicas. CPAD. Vol. I.
Foto: Arquivo pessoal - GPCD